domingo, 30 de agosto de 2009

HERMES FONTES


Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes, ou simplesmente Hermes - Fontes, como assinava, com o hífen, filho de Francisco Martins Fontes e Maria de Araújo Fontes, nasceu em Boquim em 28 de agosto de 1888. Era primo de minha avó materna, também nascida em Boquim.

Estudou as primeiras letras na terra natal, mudando-se, aos 8 anos, para Aracaju onde passou por algumas escolas até matricular-se no colégio do professor Alfredo Montes. O talento do menino chamou a atenção dos professores, pela precocidade, espalhando-se em toda a capital sergipana, chegando ao conhecimento do presidente do Estado, um dos bacharéis do Recife, Martinho Garcez, que o levou para o Rio de Janeiro.

Hermes - Fontes tinha 10 anos quando chegou na capital da República para estudar, às custas de Martinho Garcez. O estímulo recebido frutificou, os estudos revelaram a intelectual, que desde os 15 anos passou a colaboras na imprensa, começando pelo jornal O Fluminense, de Niterói, seguindo-se muitos outros, onde mostrava sua vocação de poeta e de crítico. Em 1911 bacharelou-se em Direito, pela Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais, onde Silvio Romero era professor.

A trajetória poética de Hermes - Fontes, desde Apoteoses, 1908, até Fonte da Mata, 1930, consagra sua vida intelectual, adornada pela crítica ampla que fez da vida brasileira, em artigos, ensaios e colunas nas principais revistas e nos grandes jornais de sua época – Correio da Manhã, Fon – Fon, Careta, O País, O Malho, Kosmos – e ainda pelo traço bem humorado da caricatura. Hermes - Fontes foi, então, um artista completo, que conquistou o público, mereceu opinião favorável dos críticos e o reconhecimento pleno de sua intensa atividade intelectual.

Hermes - Fontes é um daqueles sergipanos emigrados, construindo uma biografia de êxitos literários, ainda que vivesse uma quadra de profundas mudanças estéticas. O Modernismo de 1922 traçou nova ordem para a poesia, renovando os modos das composições poéticas. Hermes - Fontes estava no itinerário de transição e não acompanhou a celeridade que os adeptos do Futurismo de Marineti imprimiram. Em certa medida, Hermes - Fontes é um retardatário, muito embora sua obra seja de muito boa qualidade, nela estejam os fundamentos da arte poética e tenha sido publicada, em grande parte, antes da Semana de Arte Moderna.

Hermes - Fontes queria ser Príncipe dos Poetas e membro da Academia Brasileira de Letras, mas não teve tempo de esperar pela glória pública à sua obra. Participou, no entanto, da organização da Academia Sergipana de Letras, tendo o seu nome figurado na Ata de 1º de junho de 1929, como Fundador da Cadeira nº 16, que tem como Patrono o poeta Pedro de Calasans. A aprovação do nome de Hermes Fontes entre os fundadores da Academia Sergipana de Letras parece mesmo representar uma homenagem ao poeta, pois outros sergipanos residentes fora do Estado e com nomes feitos na cultura brasileira, como Laudelino Freire, Aníbal Freire, João Ribeiro, Manoel Bonfim, Graccho Cardoso, Deodato Maia, Barreto Lima e muitos outros foram deixados nas cadeiras de Sócios Correspondentes. A quebra de uma regra que a Academia até hoje conserva comprova o prestígio de Hermes - Fontes em Sergipe.

Um aspecto da obra poética de Hermes - Fontes que merece destaque especial é o do aproveitamento de poemas seus em composições musicais, como Luar de Paquetá e A Beira Mar, parceria com Freire Pinto, que fizeram sucesso regravadas por Orlando Silva e Carlos Galhardo, e ainda hoje são das mais belas modinhas brasileiras, de todos os tempos. Antes de Hermes - Fontes, o poeta Bitencourt Sampaio, nascido em Laranjeiras, fez versos que foram musicados pelo maestro Carlos Gomes, como a célebre modinha Quem Sabe. Pedro de Calasans e Tobias Barreto também tiveram versos seus musicados e assim divulgados, embora sem o sucesso das canções de Hermes - Fontes.

A colaboração jornalística do poeta boquiense, que foi além dos textos, ainda não mereceu pesquisa definitiva e reunião para publicação. Na Revista Kosmos, por exemplo, a colaboração é de crítica, principalmente de fotografia. O Meio ambiente foi outro tema recorrente nas páginas dos jornais onde Hermes - Fontes redigia, editava ou dirigia. E as charges, que notabilizaram o seu traço, debaixo de pseudônimos, como sob pseudônimos escreveu colunas humorísticas, apimentadas sobre personagens da história brasileira do seu tempo. Homem de tomar posição, abraçou a campanha civilista e a candidatura de Rui Barbosa, enfrentando os partidários do marechal Hermes da Fonseca, utilizando-se do jornalismo para expressar suas opiniões.

Os anos de 1920 foram particularmente difíceis. As desilusões amorosas, as traições, os complexos – era considerado feio, cabeçudo e media pouco mais de um metro e meio – contribuíram para que o poeta procurasse o isolamento, a reclusão, publicando apenas três livros, um dos quais – A Fonte da Mata – o último de todos, de 1930, parecia anunciar o fim próximo. Não valeram os estímulos dos amigos e dos admiradores. Desmotivado, assistindo a renovação da poesia brasileira com a geração de Mário de Andrade, Manoel Bandeira, Cassiano Ricardo, Menoti del Pichia, Osvald de Andrade, e outros, Hermes - Fontes recolheu-se, em definitivo, saindo da cena cultural brasileira.

Sua carreira de intelectual, atestada pelos livros que publicou – Apoteoses (Rio de Janeiro: Papelaria Brasil da Costa Pereira, 1908, 2ª edição Livraria Francisco Alves, 1915); Gêneses (Rio de Janeiro: Tipografia W. Martins, 1913); Ciclo da Perfeição (Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1914); Miragem do Deserto (Rio de Janeiro 1ª edição 1913, 2ª edição 1917, Livraria Editora Leite Ribeiro & Maurillo); Epopéia da Vida (Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: sem indicação de editor, 1917); Microcosmo – dedicado aos amigos sergipanos Aníbal Freire e João Ribeiro ( Rio de Janeiro: Livraria Leite Ribeiro e Maurillo, 1919); Lâmpada Velada (Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1922); Despertar, com dedicatória especial “A Sergipe, terra de meu berço, e berço de meu pai e em cuja entranha dorme sono eterno minha mãe, que lá teve berço e túmulo (Rio de Janeiro: Jacinto Ribeiro dos Santos, 1922); A Fonte da Mata (Rio de Janeiro: Papelaria Brasil, 1930). Hermes - Fontes publicou, ainda, O Mundo em Chamas, livro didático, 1914, Juízo Efêmero, de crítica, 1916 e teve organizada, postumamente, uma antologia – Poesias Escolhidas – em 1944. O autor e sua obra inspiraram o crítico alagoano Povina Cavalcanti, que dedicou dois títulos a Hermes – Fontes: Hermes Fontes, de 1933 e Hermes Fontes. Via e Poesia (Rio de Janeiro: Editora José Olímpio, 1964).

Em 25 de dezembro de 1930, aos 42 anos, Hermes - Fontes deu fim a própria vida, amargurado e infeliz, no Rio de Janeiro. Seus admiradores lideraram um movimento junto às autoridades e conseguiram erigir uma herma de homenagem ao poeta, em pleno Passeio Público, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Recentemente, com a reforma do logradouro, a estátua do poeta foi retirada, gerando alguns poucos protestos.

Fonte: DERIS ARAUJO
WWW.BOQUIM.COM

Nenhum comentário:

História de Aracaju

  História de Aracaju O território onde hoje se encontra Aracaju era, no período pré-colonial, a residência oficial do cacique Serigy, que d...